Esta venerável capela, de remota fundação medieval, foi reconstruída por completo em meados do século XVI, época que melhor se testemunha nas fachadas e em certos elementos do interior.
Do passado mais antigo subsiste apenas a inesperada sineira gótica, a velha imagem policromada de Nossa Senhora de Racamador (século XIV?) e uma curiosa laje sepulcral com escudo de tipo de cadeado — em campo uma quaderna de crescentes — e atravessado por uma espada. Ao lado do escudo, igualmente esculpido, um estandarte medieval.
Anteriormente à grande reconstrução quinhentista, há dois muito interessantes vestígios do primeiro quartel do mesmo século XVI. Um deles é a pia de água benta, recortada e de lavor de tipo manuelino. O outro passará mais despercebido, mas não é menos importante, reclamando sempre a sua cuidadosa conservação, tanto mais que será parte mínima de uma decoração já estendida decerto a todo este banco de alvenaria como ao outro da parede oposta. Trata-se de um pequeno e admirável rodapé de azulejos mudéjares ditos hispano-árabes, de estrelas geométricas e belos esmaltes. De manter igualmente em qualquer futuro restauro os retábulos setecentistas, quer o do altar do lado do Evangelho, onde está a imagem de Nossa Senhora de Rocamador, excelente obra de talha datada da remodelação de 1719 e possivelmente da mesma oficina de alguns altares da Igreja de S. Pedro, quer o do altar--mor, mais tardio e onde se venera a imagem policromada de Nossa Senhora com o Menino. Pertencem às mesmas obras de 1719 os arcos de mármores, tanto de um como de outro altar. A outra pia de água benta, oval, de mármore rosado, datará também de 1719.
Mas, certamente, o que avulta são as obras à roda de 1550-1560, datas autorizadas pelo estilo arquitectónico da reconstrução e pelas inscrições: na parede do lado do Evangelho, uma lápide de 1551; no pavimento da capela-mor, uma laje sepulcral também de 1551, de Ana de Aguiar, mulher do licenciado João de Camões, fidalgo da casa real; e outra laje datada de 1552, no pavimento da pequena nave. Cita-se ainda a data de 1565 numa janela do alpendre.
Típica desta época é a galilé, de composição paladiana, de arco redondo ao centro e colunas do dórico pujado por um frontão triangular. Na porta lateral, igualmente de frontão triangular e urnas decorativas no remate, dispõem-se duas colunas toscanas.
Interior
Além das abóbadas da sacristia, de bocetes com rosetas, e da capela-mor — esta com o seu desenho de nervuras ao gosto maneirista —, é o púlpito a obra quinhentista mais acabada e de escala monumental. É uma alta tribuna de pedra, cilíndrica e fechada, com pequenas almofadas quadradas do mesmo calcário. A base forma uma pequena taça lisa com pendente e ligeira mísula fixada na parede. A sua estreita e pequena escada é coroada por minúscula e graciosa abóbada.
Do recheio desta valiosa capela fazia parte a série de quatro tábuas, S. Pedro, S. Paulo, S. Lourenço e S. Sebastião, pinturas de meados do século XVI que hoje se expõem no Museu Municipal.
No altar-mor está de há muito a velha imagem de madeira, bastante repintada, de S. Vicente, que se venerava na derruída ermida do Forte, imagem que é uma relíquia e, ao mesmo tempo, uma peça de valor iconográfico a reunir às várias representações do padroeiro da cidade de Lisboa.